10/06/2010

decolar

É manhã lá fora. Pela janela os raios vão entrando, sussurrando para não me acordar. No céu, o Sol, minha eterna testemunha. Dá-se início aquela velha briga de casal. Xingo, esperneio, resmungo, viro a cara. São horas indo de um lado para o outro da cama. Orgulhoso, devagarzinho vou me cedendo. Preparo o banho, deixo a água ir escorrendo. É no chuveiro onde melhor consigo pensar. A cada gota uma nova idéia, uma nova reflexão. Estou com a impressão de ter todas as soluções. Mas como as gotas que as trouxeram, vão desaparecendo conforme me seco. Abro o basculante para o vidro desembaçar. Aos poucos meu reflexo surge no espelho. Observo cada detalhe do meu rosto. Mas o que poderia ter mudado desde ontem? São os mesmos olhos já ofuscados, os lábios levemente curvados para baixo não deixam mentir. Não me arrumo, o dia não pede tal coisa. Vou para a sacada, vejo os carros, cada um com uma pessoa dentro. Vejo as pessoas, cada uma com alguém ao lado, não reconheço ninguém. Olho para o céu, o tempo está limpo, não vejo nada além de kilômetros e kilômetros de azul. É manhã lá fora

íris

Agradeço aos cinzentos
Tão cheios de melancolia
Passado, vazio e tormento
Janelas de um ex-mundo de alegria
Apaixono-me pelos azuis
Onde vejo o mar que um dia mergulhei
E hoje apenas refletem as lágrimas
De todas as ondas que já chorei
Tenho inveja dos verdes
Pois eles representam a inveja em si
Mas para mim significam muito mais
São eles que vejo em ti
Os castanhos me animam
Me são semelhantes, perfeito par
Atrevo dizer que combinam comigo
São mestres na arte de camuflar
Porém me deparo com os negros
A mais perfeita combinação
Porque neles vejo tudo e não enxergo nada
Sintomas de cegueira da visão

12/11/2009

espectro

É com um suspiro que te entrego minha última esperança
E de olhos fechados ponho minha felicidade em tuas mãos
Suplicando para que isso não fique só na lembrança
Nem perdido em um dos pedaços do meu coração
Pouco a pouco minha mente me esquece
Apagando qualquer desejo que eu ainda possa ter
Meu corpo já nem mais me obedece
Minha alma perdeu a vontade de viver
Para uns poderia ser sinal de desespero
Mas acontece que o conformismo tomou conta de mim
Também, tanto tempo vivendo em anseio
Quem é que não ficaria assim?
Cheguei ao ponto onde nada me resta fazer
Tamanha as decepções vividas
Só posso mesmo continuar a escrever
Os versos dessa paixão iludida

23/09/2009

calendário

Diz pra mim o que se passa na tua mente
Me explica como funciona esse teu “querer” (in)conveniente
Galanteador barato, só aparece quando está carente
Depois some e nega que esteve ausente
Se pelo menos certas coisas fossem diferentes
Eu não ficaria aqui nesse infinito ardente
Tolo sou eu ao ser crente
Acreditando que tu te importa com o que alguém sente
No entanto, paro tudo de repente
Incomodado pela mesma dúvida pertinente
Estaria eu sendo dramático exageradamente?
Mas agora também cansei dessa rima
Não vou mais ficar contando cada dia
Vou me livrar dessa ansiedade que me agonia
(Levanto e viro o primeiro copo de bebida).

17/09/2009

homem ao mar

Viestes em época de maré cheia
Provando que nada tinha a ver com isso a lua
Pois foi embaixo do sol que me/te/nós/vós incendeia
Onde mostrasse tua pele nua (já não mais tão crua)
Não foi preciso nem um pouco mais de tempo
Eu já me via por inteiro, todo entregue a ti
Mas isso nunca foi espanto
Eu me encantando pelo primeiro canto de qualquer sereia
O que me surpreende é que ainda não tenhas vindo me devorar
Talvez seja a distância, eu no céu e tu no fundo do mar
E mesmo depois de quase me afogar indo ao teu encontro
Tu ainda continuas a cantar, o que me faz duvidar
Qual teu verdadeiro objetivo
Se num minuto acabas comigo
E no outro seguinte inventas algum novo motivo
Para que eu não desista de ti
Como o naufrago que não desiste de remar
Mesmo não sabendo aonde vai chegar

13/09/2009

doubts

I don’t know why all the trees change in the fall, or how a sad song can make me cry, and why some people don’t change at all. I don’t know why I have to learn so many stuff, how some people always get what they want, and why sometimes sex doesn’t equals love. I don’t know why friends come and go, how people can be so selfish, or how am I supposed to live on mw own. I wish people didn’t get old, that this winter wasn’t so cold, and that you knew at least my favorite song. I truly hope for better days, I wish (almost) everybody well, and I think we can always change our fate. I wonder if my friends know how much they mean to me, if anyone has ever known what love really is, and why some people rather “have” than “be”. I don’t know if a lie is always worse than the true, if sometimes being alone is really better than being with someone else, and why there are days when I can only think of you. I wish I could be someone else, know why the days pass so slowly and how I still don’t have time for myself. I wish I knew what makes you smile and I could say you are mine, even just for a little while. I wish I didn’t have so many things to worry about, that weekend lasted a little longer, and that life could give me more answers than doubts.

30/08/2009

O jardineiro fiel

Sinalizei minhas intenções e você não notou
Semente de amor que não brotou
Cuidei de cada pétala tua como se fosse minha
Maldito sentimento: praga, erva daninha
Revelaste teus espinhos quando eu menos esperava
Não era você que dizia que me amava?
Ainda tens muito que aprender antes de amar
Seja como a rosa que demora a desabrochar
Plante, cuide, regue; isso fortalece teu jardim
Mas não me venha com flores
Elas já não causam efeito algum em mim